Opinião

O Real Edifício de Mafra foi considerado Património Mundial da UNESCO condicionalmente.

A UNESCO só aceitou a candidatura portuguesa do Real Edifício de Mafra a Património Mundial , se esta integrasse todo o conjunto constituído pela Basílica, Palácio Nacional de Mafra, Convento, Jardim do Cerco e Tapada, ao invés do inicialmente proposto por Portugal, que só pretendia classificar o património edificado, facto que obrigou a candidatura portuguesa, à qual o Município de Mafra integrava, a reunir apressadamente toda a documentação sobre a Tapada, e o Jardim do Cerco, para obter a classificação almejada no corrente ano .


A classificação de Património Mundial da UNESCO ora atribuída ao conjunto dos cinco elementos supra-designados, se quiser continuar a ostentar esse título tem de cumprir, ou mostrar que está a trabalhar nesse sentido, três condições: criar uma gestão integrada das ora cinco entidades independentes que são responsáveis pela gestão de cada uma das partes , em nossa opinião, uma solução tipo da encontrada em Sintra com a empresa Parques da Lua; o património edificado não poderá ser considerado um alvo militar, condição que poderá implicar a saída da Escola das Armas do Exército sedeada no Convento, colocando-a noutro local que eventualmente poderá ser o aquartelamento do Alto da Vela, ou mesmo deslocar essa unidade para outro local; e musealizar convenientemente o edifício, esta última condição parece-nos de fácil resolução caso, conforme previsto, seja transferido para Mafra o Museu Nacional da Música.


Parece-nos ser urgente trabalhar arduamente no sentido de fazer face às condicionantes impostas pela UNESCO, ou caso não se consiga em tempo útil satisfazer completamente essas três condições, no mínimo apresentar um relatório de progresso e uma fita do tempo convincente para a sua resolução, pois três anos passam depressa e a tarefa é ciclópica.


Nós que somos militares e estivemos colocados na Escola Prática de Infantaria vários anos, temos imensa pena de que o Exército tenha eventualmente de saír do Convento, carinhosamente designado pelos militares que nele serviram de “Calhau”, que ocupa há cerca de um século e meio, no entanto, caso a Escola das Armas seja obrigada a dele sair, pensamos ser importante que o Exército repense lucidamente a recolocação da Escola das Armas, noutra Zona do País, onde efetivamente haja espaço para se poderem exercitar todas as armas do Exército, e inclusive se possa executar tiro real de armas diretas e indiretas sem condicionantes.


Parece-nos no entanto que o antigo Centro Militar de Equitação e Desportos se poderia manter em Mafra, pois embora sendo militar é meramente um Centro de Desporto e Equitação Militar.


No mínimo o Exército deverá deixar no Convento, que ocupou um museu dedicado à Infantaria , e eventualmente recrear na tapada alguns percursos pedestres musealizados, que estão na memória de milhares de instruendos que pela EPI passaram no cumprimento do seu dever para com o país , e que ao eventualmente ao virem a revisitá-los, possam com saudade a sua juventude perdida.

Nuno Pereira da Silva
Coronel de Infantaria na Reserva.