Opinião

Covid – 19

Tive a oportunidade de no Iraque trabalhar, numa estrutura montada pelos USA, para efetuar o apoio à decisão do Primeiro Ministro (PM) numa situação de guerra.

Nele estavam 24 sobre 24 horas sentados e a trabalhar , pelo menos um representante de todos os ministérios, dos serviços de Informações Civis e. Militares, das Forças Armadas, de Segurança, de Defesa Civil , e todos os que eventualmente pudessem  ser considerados  necessários, para o apoio à tomada de decisão do PM.

O gabinete de crise/guerra era uma  grande sala em ”open space”, em anfiteatro, com cerca de oitenta pessoas em permanência, em ambiente ” tempest”, onde todos dispunham de  computadores seguros, cifrados, ligados em rede entre si e  com os seus serviços de origem,  liderado pelo Conselheiro Nacional de Segurança, na dependência direta  diretamente do PM e co-localizado no ”compound” do mesmo.

Em caso de situação que não de crise ou guerra o pessoal dum gabinete de crise será mais reduzido mas igualmente  eficaz.

Na União Europeia este gabinete em permanência designa-se por ” Situation Center” e está localizado no Conselho da União Europeia.

Todos os dias  em que estive neste Gabinete no Iraque, recolhíamos continuamente  informações  e preparávamos ” briefings” de apoio à  decisão do Primeiro-ministro.

Um gabinete  de crise/guerra é essencial para gerir crises graves,  e eventuais guerras.

Todos os Estados desenvolvidos, e modernos têm  gabinetes de crise em permanência, que são reforçados com pessoal em caso de necessidade. Portugal não tem, uma estrutura deste género, continuamos a decidir às cegas, sem os dados todos, baseados em percepções e não em informações fidedignas,  sempre confiantes na nossa flexibilidade, vulgo  capacidade de desenrascanço.

É grave, muito grave, como se viu na errática atitude do governo, consequência da sua desorientação e desconhecimento acerca da evolução da situação  da epidemia na China e da sua eminente disseminação, ora pandemia, do COVID-19, no período que ocorreu  desde dezembro até março, data do primeiro caso em território nacional.

Nunca estamos preparados para nada, não temos estruturas fixas treinadas  para se reforçadas apoiarem a decisão e disseminarem a informação e , ou a decisão, não temos  reservas de guerra, não temos no caso em apreço planos de contingência em permanência,  não temos ventiladores em quantidade para fazer face à uma pequena crise, quanto mais uma epidemia, não temos equipamento individual de proteção para o pessoal da saúde, nem máscaras  e luvas para a população, nem nada do que é preciso.

Ninguém tem uma visão holística do que se passa.

É inacreditável.

Parece que estamos igual ao que estávamos na Grande Guerra em que, nesse caso voluntariamente, participámos, sem planos, sem fardas adequadas ao clima, sem equipamento individual adequado, nem armamento, chegando ao cúmulo de defendermos as fronteiras de Moçambique contra os alemães  armados de varapaus.

Nuno Pereira da Silva

Coronel de Infantaria na Reserva